domingo, 9 de dezembro de 2012

As representações como processo de Significação




RESUMO:

FELICE, Maria Inês Vasconcelos Felice. As Representações como processo de significação. Cidade: editora, ano.

Introdução
  • É um recorte da tese cujo tema busca investigar as representações reveladas pelos professores sobre os alunos ingressantes no ensino superior;
  • Busca investigar se e como as concepções desses professores sobre aluno imaturo e aluno ideal afetam a identidade dos alunos (dos calouros);
  • Embasamento sociointeracionista vygostkyana, representação em Bronckart (1999), que se apoia em Habermas, mais os conceitos de Bakhtin atinentes à dimensão discursiva implicada na formação de representações.
  • Trabalho se pauta na hipótese de que o professor reflexivo constrói suas interações com base em representações construi
  • Texto tem três partes: 1. Percurso teórico; 2. Contexto e Metodologia da pesquisa; 3. Análise (das principais representações que afloraram nas entrevistas) e apresenta considerações sobre os efeitos do discurso dos professores para a constituição da identidade desses alunos.   

Fundamentação Teórica
QUESTÕES SOBRE A REPRESENTAÇÃO
  • As pesquisas com abordagem teórica fundamentada no referencial das representações sociais encontra uma boa parte de trabalhos no campo da Linguagem e Educação;
  • Moita Lopes: “os significados construídos em sala de aula têm papel preponderante na definição de identidades sociais que desempenhamos” (2002, p. 191).
  • Celani e Magalhaes (2001, p. 4) falam de uma instância de “mediação de significações” entre as relações institucionais e os aprendizes. Relacionam-se a crenças (valores e verdades) que definem quem tem o poder de falar, quais são os discursos valorizados, etc.
  • PODER = Stuart Hall (apud Silva) afirma que é o “poder” que tornam as coisas verdadeiras. (poder com base foucaultiana) = fragmentado, multifacetado, pulverizado nas microrelações, nas microinstâncias e não apenas nos AIE (Marx, Althusser). => Os significados são construídos a partir de práticas discursivas.
  • INTERACIONISMO = Bronckart (fonte geradora)
  • INTERACIONISMO = Vygostky e Habermas (principais teóricos)
  • Habermas = FILOSOFIA DA COMUNICAÇÃO / TEORIA DA SOCIEDADE -  o sujeito busca o consenso junto a outros sujeitos, busca conhecer os objetos e agir através deles.
  • SIEBENEICHLER afirma:  “A pragmática universal tenta reconstruir sistematicamente as condições ideais de todas as ações comunicativas voltadas ao consenso, ou de todo entendimento racional possível, no quadro de uma teoria comunicativa”. PRAGMÁTICA UNIVERSAL: busca mostrar o que uma pessoa precisa ter para participar de uma situação envolvendo a fala” . a  PRÁTICA discursiva (COMUNICATIVA) se justifica pois o sujeito tem INTENÇÕES, ASPIRAÇÕES.  Mas não são sempre EXPLÍCITOS, pois limitam-se ao CONTEXTO.
  • SISTEMA DE REPRESENTAÇÕES se organiza em TRÊS MUNDOS do sujeito: a) um fato (mundo objetivo); b) uma norma válida (mundo social) e c) uma vivência subjetiva (mundo subjetivo)
a)      UM FATO (MUNDO OBJETIVO)  - ESTÃO organizados os conhecimentos coletivos acumulados. (“MEMÓRIA SOCIAL”)
b)      UMA NORMA VÁLIDA  (MUNDO SOCIAL) – ESTÃO organizados as formas de convenção, aceitação e cooperação entre os indivíduos (Ex. não se aceita agir de qualquer forma em qualquer lugar, ETIQUETA, LINGUAGEM, VESTUÁRIO, etc.)
c)      UMA VIVÊNCIA SUBJETIVA (MUNDO SUBJETIVO) – TOTALIDADE de ações e experiência do indivíduo. (acumulo de suas experiências).

HABERMAS: destaca a ação comunicativa em que dois ou mais agentes “procuram expressamente chegar a um acordo de modo a poder cooperar”  - perspectiva PRAGMÁTICA com uma abordagem teleológica (comunicação com um fim).

Noção de INTERAÇÃO: busca (se apoia na)
Necessidade  de entendimento
Voltado para a obtenção de um consenso
No reconhecimento mútuo dos significados do mundo representado
Isso implica: compreensão da mensagem, e concordância de normas sociais.

BRONCKART (interacionismo sócio-discursivo)
Por meio da ATIVIDADE DA LINGUAGEM =>  
os sujeitos “JULGAM”  a ação dos outros e as próprias
No reconhecimento mútuo dos significados do mundo representado

Enfim: Para Bronckart : As representações são SOCIALMENTE construídas pelas INTERAÇÕES e SUSTENTAM  o caráter histórico, cultural e social das atividades humanas.  (Essa base é fundamental para se analisar as representações em sala)

BAKHTIN: destaca o valor do IDEOLÓGICO nas enunciações, mostra como o social e o histórico fazem parte das INTERAÇÕES HUMANAS e como o indivíduo se apropria subjetivamente desse cenário.  Signo => IDEOLÓGICO. (não se desvincula do social) Signo é construído socialmente, nas interações.  Na interação confrontam o SIGNO em construção com os signos já construídos e partilhados.   /. Esse conceito casa bem com o conceito de representação de Bronckart. 

BAKHTIN = DIALOGISMO. O uso do SIGNO dependerá do contexto, do destinatário,  do lugar, etc. Enfim, o discurso se caracteriza pela INTERAÇÃO entre falante e ouvinte.  
A significação da palavra não está nela mesma, mas na interação entre locutor e receptor.
Para Bakhtin somos multilíngues, falamos várias LINGUAGENS (léxico, estrutura do texto, conteúdos) a depender do contexto.

Contexto da Pesquisa

Etapa A: Entrevista a 6 professores ministrando aulas no 1º período de cursos de graduação de uma instituição federal de ensino superior (2 de Exatas; 2 de Biomédias e 2 de Humanas), áudio-gravadas, transcritas.

Entrevistas foram aplicadas como propósito de perceber como eles IDENTIFICAVAM os calouros. 

Análise em uma perspectiva etnográfica interpretativista (cf. ERICKSON, 1986).  

Verificar se os professores faziam discriminação entre o aluno do VESTIBULAR e o do PROCESSO SELETIVO SERIADO (alunos de escola pública) e que reserva 50% das vagas para esses alunos.

Justificativa: O TRABALHO SE JUSTIFICA em virtude do termo “imaturo” atribuída a esses alunos oriundos desse PSS PROCESSO SELETIVO SERIADO.

Selecionou 10 alunos de cada turma para que os professores preenchessem uma ficha de observação  e para ‘triangular” com os dados das entrevistas.

Etapa B, aplicou a mesma entrevista com professores do 2º período, nas mesmas turmas frequentadas pelos alunos anteriormente selecionados para pesquisa.  + entrevistas com 2 alunos (dos selecionados) de cada turma: total de 12 entrevistados.


Representação dos professores sobre os alunos ingressantes

  • É válido lembrar que as representações reveladas podem ser compreendidas apenas hipoteticamente (somente hipóteses), JÁ QUE ESTÃO IMPREGANADAS DE PROPRIEDADES PSÍQUICAS ÀS QUAIS NÃO SE TEM ACESSO TOTAL.

RESULTADOS:

Professores
Representação
Admitem não haver distinção entre os alunos VT (Vestibular Tradicional) – PSS (Proesso Seletivo Seriado)
Acreditam que os alunos PSS sofrem discriminação por ser mais fácil seu acesso.
Sobre o aluno “Imaturo”
Imaturo => ligado à idade (associa idade à aparência física)
Maturidade = reprovar  2 ou 3 vezes no Vestibular.
Imaturidade => Conversas paralelas e brincadeiras em sala de aula  (CONVERSA = sinônima de descompromisso com o curso - CONVERSA: não poderia ser aula mal planejada? Que
não corresponde às expectativa do aluno.
“os alunos não têm compromisso com o curso”
CONTRADIÇÃO
Nas Fichas de Observação, os professores destacam  que a maioria dos alunos 87.9% se mantém ATENTO às explicações.
= não corrobora com o discurso.
CONTRADIÇÃO
Na observação (Fichas) os professores consideram aqueles alunos concentrados e educados (93,1%). Assim, falam de alunos mal educados de uma maneira geral.
Aluno ideal seria
Autônomo
Pontual, motivado, assíduo, curioso, participante, responsável
Sem necessidade de prof.

Nas fichas os alunos afirmam que 70% dos alunos aparentam autonomia.


Para alguns, o aluno “ideal” não existe.

Apesar de darem essas qualidades aos alunos (autônomos , pontuais, etc.) eles não os consideram ideais.

São pontuais,
Não faltam sem justificativa,
Mantém postura respeitosa diante do professor.


RESULTADOS
TENDÊNCIA / REPRESENTAÇÃO
REALIDADE
Professores tendem a construir uma REPRESENTAÇÃO COLETIVA dos alunos (desinteressados, descompromissados, barulhentos, desatentos, etc.)
A observação de seus alunos, demonstra que os mesmos são interessados, pontuais, bem diferentes dessa representação coletiva.
“Os alunos não tem interesse”.
O professores não fazem uma reflexão da própria prática, de sua metodologia, ou questiona a causa de desinteresse dos alunos.
Identidade social do aluno DIFERE
Da Identidade individual de seus próprios alunos.

Considerações: 

Todas as afirmações dos professores provém do senso comum.  (Nenhuma afirmação foi fundamentada com base em alguma teoria da psicologia que caracterizasse um indivíduo imaturo).

O fato do aluno “não estar pronto”, exime o professor dos problemas de aprendizagem desses mesmos alunos. (Problemas que podem ter sido causados pelo discurso avaliador redutivo e homogeneizante dos professores em relação aos alunos).

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